domingo, 4 de maio de 2014

Domingo

Domingo: Flamengo em campo. 4x2.
Ouço gritos alvoroçados do coro dos vibrantes. Ouço uma angústia tumultuar-se em mim enquanto me esgueiro entre dores para respirar.
Corro, sem sair do lugar. Ninguém me nota, tampouco supõem-se a acidez que sufoca.
Deveras, o amor é também um domingo tal e qual descrevo; equilibra-se ébrio entre alegrias e dores, vibração e alívio. Dura um tempo imensurável até que perece flácido e faminto.

O amor não é o amarelo do Gauguin, nem a prosa do Drummond. Por vezes finge ser a pentatônica do Brubeck. Não! O amor é um discurso medíocre e falacioso.
O amor é a transposição metafísica da dor pra dentro de quem ama.
O amor é volátil em pessoas volúveis, porém, mais lentamente esvazia-se enquanto seca os que amam de verdade. 
A princípio, o amor é uma mentira bem contada.
Fuja! Fuja também dos poetas, falsos arautos!
Fuja quando diz o Pessoa que não existe razão senão amar. Apenas fuja!

Contudo, eu não fujo. Tão logo ele bate à porta, colorido e intenso como um sábado de sol.





domingo, 6 de outubro de 2013

solto, absorto

Ninguém, meu amor
Entenderá pra onde
Inclina-se o meu maior
Agrado junto ao mais
Reconciliado contigo acordar
Nem jogo e simetria
De palavras
Soltas, absortas
O lado pra onde viro e
Durmo é um limite
Diáfano onde os
Versos e lampejos te espiam
Isso me basta
Desperto
Enfim, meu amor
Em um segundo
O primeiro abrir de olhos

domingo, 29 de setembro de 2013

Tão logo

Foi-se o tempo de paz. Foice, o corte ao peito à morte. Afã.
Acordei de um sono leve. Tempestuosa liberdade de ser um e ser mil.
Abristes mão, lançastes a sorte.
Pó, poeira, eira, só.
Agora me consumo, consumida em espera.
O que resta?
Apressa! A pressa já engoliu todo sossego.
E o medo amofinou nossos sonhos.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Não obstante...

Tudo o que ficou para trás, em recorrência, se projeta em minha mente. Posto em desejo do que possa vir a ser futuro.
Nada ficou para trás. Tudo está para ser. Ainda está por vir. Não foi transmutado, resignado, estagnado. Está vivo, latente.
Peito feito braseiro aceso;
                                                                                                                                                    saudade.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

quatro e trinta e sete

4:37. Marca o pulsar dos movimentos ligeiros de meu punho. Insone. É hora de vomitar essa angústia. Filtrar. Expurgar a ânsia.
Enquanto o peito acelera e descompassa o batimento incerto e assustado, em minha mente ecoa, em movimentos espiralados ininterruptos, pequenos fragmentos de Drummond latejando insistentemente:

``Meu Deus, porque me abandonastes,
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco``

Um amontoado de fraqueza é o principal elemento a constituir minha insanidade pérfida. Um colapso do que eu sou mergulhado no meu caos inenarrável.

``Mundo mundo, vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo, vasto mundo
mais vasto é o meu coração``

Eu sou hoje o que me tornei. O que fui já expirou, em validade efêmera.
Anseio tornar a ser gigante, ter o corpo incoerente à dimensão do que sou. Imponente!

Houve um ponto da jornada, a qual não me recordo, em que fui esquartejando meus sonhos por vias de lâminas de covardia, sucumbindo às aspas de minha vastidão, outrora tão intensa.
O medo de perder só me impediu de ganhar. E, tentando crescer, me vi diminuindo irresoluta.

Agora, posta em letras enleadas e lágrimas, penso em minhas fraquezas explícitas e minha insegurança sobre-humana, inerentes à minha sensibilidade manifesta...

O som é a saída. É o inefável. É o melhor que pareço ter, a cada mínima definição do que eu possa ser.

Amanheceu, tudo claro lá fora. Eu aqui permaneço escura em mim.

Repetir os movimentos, buscar ânimo para fingir leveza. Eis mais um dia a viver!


domingo, 12 de agosto de 2012

Nada anestesia tanto quanto ondas de sons propagadas métricas em notas menores, quando é o peito um esmagado de saudade.  
Um quase ópio é o som que inanima. 
Uma quase morte é a falta de quem se ama.



terça-feira, 1 de maio de 2012

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Contigo

Não há, nem sob a maciez de um pingo de chuva que permeia o mar, amor, como o meu, que se deduza ou se exprima por vias de esclarecimento verbal.
É teu. Dele, o conhecimento e exatidão se mostram quando te vejo, quando te sinto e quando brigo com o mundo para que seja possível, enfim.

Não ousaria desistir desta quintessência que me mantém viva e viável.
Ainda que esbravejem, se deleitem em lamúrias, ameacem e maldigam, nada maculará a leveza desse amor, que é teu; eu repito.
Ainda que tentem sucumbir ao caos as horas que seguem, somente ao teu lado a paz é possível.

Me entrelaço em teu corpo como quem se aninha. Me faço tua.

Tuas são as mãos, os sons, as cores, os verbos, a carne, a libido e a fome de vida. Teus são os sabores, as letras, a serenidade e a calma.

E o tempo passa depressa, nem percebo...
Pra sempre ao teu lado.

terça-feira, 6 de março de 2012

Ode. Anacruse. Ritornelo. Princípio. Meio. Sem fim.
Sacode. Sucumbe. Esgota. O fim. Sem começo.
Arranca. Lambe. Rasga. Toca. O som. Silêncio.
A nota. O tom. Partido. A terça. Aumentada. Sustenida. Fudida.

sábado, 12 de novembro de 2011

Bambas Dois (Brasil-Jamaica)


Sonzeira de primeira!
Um embalo dos batuques brasileiros com a cadência swingada jamaicana, se assim pode-se dizer. Reggado a bambas e biritas!
Xote in Reggae de muito bom gosto!

Download: http://www.filesonic.com/file/2719256364

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Pedaços dizimados da minha carne se contentam com a espera tua.
Os risos, os gestos, os toques, os arrepios e a saliva se projetam de mim em ti e imagéticos se tornam todos os segundos em que me habitas a mente. Também me habitas a pele em total desatino.
Sinto tua falta, não como quem se desespera, ou como quem amputa. Sinto tua falta como quem se delicia em saudade.
Carrega-me contigo, pássaro-poesia. Alcança-me breve com o buliçoso do teu vôo.
Chega mais perto de mim!

enquanto sinto...

"Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando aquele outro decantado
Surdo à minha humana lagradura
Visgo e suor, pois nunca se faziam
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás!
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia um jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada."

Hilda Hilst, Do desejo

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Dentro das horas latentes de profunda inundação de mim em mim, as imagens dos teus gestos me sossegam de mim. Me afugentam de mim.

Meu amor é teu.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Copacabana

Lá fora, abaixo dos meus pés, o barulho dos carros, a agonia das horas e o torpor das ondas do mar sucumbem ao caos as minhas saudades mais pérfidas.
Meus dedos vergados sobre letras tentam amenizar o desespero ácido que palpita em meu peito e que responde pelo nome de ausência.

"ausência 
s. f.
1. Estado ou circunstância de não estar presente.

2. Tempo que dura a ausência.

3. Falta de comparência.

4. Carência. "


O meu suor congelado busca altivez nas extremidades táteis. A melancolia já estancou a espera.